de
Henrique Senhorini
apresentado no Pensar
Psicanálise – Instituto Latino americano Psicanálise Contemporânea em 18 maio de 2015.
Bom,
este tema – a intolerância - tem comparecido cada vez mais nas
mídias, nos noticiários, principalmente na questão
racial/religiosa. Estou me referindo aos grupos extremistas, como por
exemplo, o autodenominado Estado Islâmico, cujas ações,
justificadas por eles, são movidas por uma identidade religiosa.
Sabemos que não podemos excluir deste contexto de intolerância a
questão da identificação étnica/social/religiosa. Porém, sabemos
também que não é bem isso, no mínimo, trata-se de um pretexto - o
uso da religião, mesmo assim de forma distorcida - para tentar
justificar suas ações e encobrir os verdadeiros motivos. São
grupos extremistas que simplesmente aniquilam seus opositores - até
os seguidores da mesma religião e da mesma ramificação do Islã,
no caso os Sunitas – por, simplesmente, não tocarem a mesma música
e no mesmo tom.
Grupos
cujos membros estão sob uma “lógica afetiva”(p. 72), como a
apresentada por Fanon e descrita por Derek Hook (2014) – prof. do
Depto. Psicologia Social da Universidade de Londres - no livro
“Raízes da Intolerância”, que delineia uma determinada economia
libidinal formando laços sociais libidinais. O autor nos lembra que
para Freud (1921), em “Psicologia das massas e análise do eu”,
a economia libidinal trata-se de “um vetor fundamental de
identificação de grupos”(p.73) e que a constituição dos seus
laços sociais se dá através da conflituosa adesão dos
investimentos de seus Ideal do Eu (no registro do simbólico) e Eu
Ideal (este no imaginário). Sem nos esquecermos de levarmos “em
consideração a narcisista e imaginária imagem do Eu Ideal que uma
comunidade tem de si mesmo”(Id. Ibid, p.74). E o que isso
acarreta?
Resposta
fácil: somos melhores e superiores que os outros.
É
isso que Hook – desenvolvendo o pensamento de Fanon - diz ao se
referir ao “conjunto narrativo”, da comunidade, formado “de
desejáveis, heroicas e frequentemente exageradas autorrepresentações
que ela [a comunidade] promove e com as quais se identifica”. (Id.
Ibid, p.74)
Assim
se dá a constituição de um grupo, como consequência dessa hiper
inflacionada e inchada imagem de si mesmo dizendo, para os próprios
ouvidos, que somos os melhores …. Bem, sendo assim, os outros só
podem ser os inferiores, os menos em tudo quando comparados.
Um
parênteses sobre a questão do reconhecimento...
Todos
nós sabemos a importância do reconhecimento, de sermos reconhecidos
em qualquer vertente de nossas vidas, desde o nascimento. Porém,
Oscar Cesarotto (2014) sobre esta questão avisa: “na luta pelo
reconhecimento, o prestígio de cada um dependa inversamente do
outro.” (p.15), nos lembrando que para alguém ter mais
reconhecimento, um outro terá que ter menos.
Então,
retornando... Isso nada mais é que “uma estratégia de
posicionamento, um tratamento
da
ansiedade por meio de uma série externamente focada de atribuições
que leva à consolidação de uma identidade de grupo”(ibid). Foi
assim que, provavelmente, se formou um Estado – como este, o
Islâmico - sem terras, sem frenteiras e sem uma nacionalidade
própria, visto que muitos de seus combatentes são naturais e
oriundos de diversas nações, incluindo USA, países da Europa e até
do nosso Brasil.
Mas
e em contrapartida, estamos assistindo - principalmente na Europa -
o rápido desenvolvimento de uma Islamofobia. Trata-se da velha
xenofobia europeia dando sinais que continua viva e saudável, pois
nunca morreu ou adoeceu, no mínimo, estava em letargia como um urso
em estado de hibernação aguardando seu momento.
Portanto,
o que estamos vivenciando – e alguns experienciando no corpo – é
uma crescente escalada de violência por parte daqueles que não
suportam o diferente nem a sua diferente visão do mundo, de agir no
mundo, de ser no mundo. Neste caso específico, estou me referindo ao
Estado Islâmico – também conhecido como ISIS – que não tolera
nem mesmo a famosa al-Qaeda, que fora, até pouco tempo atrás, como
seu irmão mais velho na família dos intolerantes extremistas.
Um
aviso:
estou deixando propositadamente o grupo Boko Haram e seu reinado de
terror por achar que se trata de outra coisa que vai mais além da
intolerância.
O
pior é que não se trata de uma novidade. Na idade média também
fizeram uso da religião, neste caso o cristianismo, para justificar
ações de aniquilamento contra o diferente. Todos conhecem a
história e, no mínimo, já ouviram falar das Cruzadas, a grande,
cruel e sanguinária “guerra santa” medieval.
Outro
aparte aqui...
Interessante
e equivocada é a expressão “guerra santa”, utilizada ao longo
da história até os dias de hoje, do século 21 e que muitos nomeiam
esse período de pós-modernidade, mundo globalizado, etc...
Não
existe guerra santa! Isto é uma contradição em termos.
Bem,
retornando...
E
podemos por na mesma conta da crueldade o período das grandes
navegações, descobertas e colonizações? Os índios do Brasil
acham que sim!
E
seguindo rapidamente essa linha do tempo – de forma livre, sem o
rigor acadêmico, pois não é o caso - veio o período da mão de
obra africana escravizada. Por que os africanos ? Cor da pele negra,
bem diferente dos brancos europeus, sem poderio bélico – diferente
dos turcos otomanos da época das cruzadas -, sem defesas, além da
aprovação e apoio irrestrito aos brancos dado pela religião
católica, a mesma que pregava que os negros, assim como os índios,
não possuíam almas. Portanto, tudo bem, podia-se fazer o que bem
entender deles.
Os
índios - que no primeiro momento também foram escravizados e ou
catequizados - por vários motivos, não serviam para as demandas de
trabalho dos colonizadores europeus – também não havia nada
deles/neles que os colonizadores desejassem - e por conta disso,
também, foram na sua grande maioria exterminados, diferentemente dos
negros...
Esses
últimos até por serem mais fortes e consequentemente mostrarem ser
uma mão de obra melhor, tiveram um outro destino: as senzalas.
Porém, sua força, seus corpos musculosos, a virilidade e potência
sexual era temida, além de - sob disfarce – admirada.
E
daí podemos questionar:
Com
a convivência forçada entre o senhor e o escravo, o racismo -
através de esterótipos criados que diminuíam humanamente os
negros- foi a maneira encontrada dos brancos se protegerem de seus
próprios desejos inconscientes? Imagina só se as brancas da época
se empolgassem com o pênis negro (grande e grosso) dos escravos
africanos? Seria esse o temor dos homens brancos? Seria essa a
verdadeira inveja do pênis?
Só
para demonstrar como os negros eram retratados, vou citar um trecho
do que se escrevia no mundo branco, sob eles naquela época – em
“The
History of Jamaica” (1774)
–
de
Edward Long (administrador
colonial britânico e historiador) :
“(...)
orgulhosos, preguiçosos, traiçoeiros, desonestos, sensuais e
viciados
em
todos os tipos de luxúria, e sempre prontos para promovê-los nos
outros, como cafetões, alcoviteiros, incestuosos, brutos e
selvagens, cruéis e vingativos, devoradores de carne humana, e
bebedores de sangue humano, inconstantes, vis, traiçoeiros e
covardemente ligados e viciados em qualquer tipo de superstição e
bruxaria e, em poucas palavras, a todos os vícios que a eles se
apresentem (…).
Eles
são desumanos, bêbados, falsos, cobiçosos, e desleais ao mais alto
nível (…). É tão impossível ser um Africano e não ser lascivo,
como é impossível nascer na África e não ser um Africano (…),
[Suas] habilidades são verdadeiramente bestiais, não
menos
do que suas relações com o outro sexo; nesses atos eles são
libidinosos
e descarados como macacos ou babuínos.” (Id. ibid, p.71)
Horroroso,
não é gente? Mas era assim.
Mas,
seria esse o horror fantasmático - o das mulheres brancas os
trocarem por homens negros - o motivo de tanta barbárie contra os
negros? Até porque os homens brancos não os achavam sensuais e
libidinosos como descrito acima por Long?
Pode
ser e é por isso que Fanon denomina esse movimento de negrofobia.
Mas, realmente, trata-se de uma fobia ? Uma fobia em relação aos
negros?
Vejamos
o que ele diz sobre: “O objeto fóbico é essencialmente aquele que
desperta um senso de insegurança subjetiva no sujeito [pois] esse
objeto perturba e provoca ansiedade no sujeito fóbico, que o
considera detestável, repugnante.”(id.ibid, p.74 e 75). E ele, o
objeto fóbico, “induz a uma poderosa reação irracional, uma
resposta que ultrapassa qualquer medo aceitável ou ansiedade
justificável”. E, continuando com Fanon, o fóbico dá ao objeto
“maliciosas intenções e (…) os atributos do poder maligno”
(p.74).
Porém,
devemos levar em consideração a noção de ambivalência na
psicanálise, que “correntes contrárias existem conjuntamente,
conjunções dinâmicas nas quais cada uma é a condição da outra”
como nos lembra Hook. (Id. ibid, p.77). E Fanon deixa isso muito
claro em sua ideia de racismo fobogênico ao dizer que “o alvo do
racismo permanece entrecruzado não apenas em relação ao desgosto,
repulsão e difamação, mas com potentes relações de fascinação,
exotismo e desejo.” (Id. ibid, p.77). Desejo esse que tem que ser
repelido a todo custo, permanecendo no inconsciente, pois de modo
consciente seria insuportável para o sujeito.
E
não seria a mesma coisa, o mesmo mecanismo, o mesmo funcionamento, a
mesma dinâmica e economia libidinal em relação aos homossexuais? A
homo e bissexualidade?
Afinal,
muitos - os Bolsonaros e Felicianos da vida com suas trupes, são
exemplos disso - consideram os bi e homossexuais detestáveis e
repugnantes assim como citado acima em relação aos negros. Até
porque esses também ameaçam a ordem natural, a ordem social e, além
disso, eles ainda podem escolher e amar livremente seus parceiros e
parceiras sem estarem presos a condição de gênero? Homofobia? Pau
neles?
Contudo,
o racismo – desenvolvido por Fanon como uma negrofobia – assim
como a repulsa aos bi e homossexuais não podem ser reduzidos a uma
fobia, como nos adverte Hook (Id. Ibid, p.75), apesar de sua dinâmica
analiticamente vantajosa que nos induz, muitas vezes, a esse engano.
Aliás
- e é sempre bom lembrar -, não podemos pensar a negrofobia e
homofobia mais como uma perversão do que propriamente tratar-se de
uma fobia? O psicanalista Arnaldo Dominguéz de Oliveira (2012), em
“A Homophobia”, afirma que sim!
Bem...
de minha parte, eu entendo que o gozo apresentado por esses
intolerantes, citados aqui e já generalizando, está mais para um
gozo-do-Outro - um gozo fora da curva da castração - indicando uma
perversão, mais do que uma fobia, visto que o vou gozar do e no
outro sem a autorização desse outro faz barulho e é uma das
principais características da perversão ao lado da famosa frase,
“eu sei, mas mesmo assim...”, cunhada por Mannoni (1991, p.189),
afirmando que o “mas mesmo assim” (Ibid) é explicado pelo desejo
ou fantasia.
Apesar
de tentadora, eu não vou entrar nessa disputa, visto que tanto a
fobia quanto a perversão tem em comum a problemática relação do
sujeito com a sua castração. E é importante salientar – e também
não podemos desconsiderar, nem um pouco - a “placa giratória”
de Lacan (1968-1969, p. 298) que demonstra como se dá esta
aproximação entre a fobia e a perversão. Vamos à fonte:
"A
fobia não deve ser vista, de modo algum, como uma entidade clínica,
mas
sim como uma placa giratória. Ela gira mais comumente para as duas
grandes ordens da neurose, a histeria e a neurose obsessiva, e também
realiza a junção com a estrutura perversa [...] Ela é muito menos
uma entidade clínica isolável do que uma figura clinicamente
ilustrada, de maneira espetacular, sem dúvida, mas em contextos
infinitamente diversos." (Id.ibid, p.298)
Bom...
então, a fobia como
o resultado de uma modalidade de defesa contra a angústia da
castração através da eleição de um objeto fóbico, denota para
Freud,
uma presença excessiva do pai como agente castrador para crianças
em sua fantasia. Já Lacan
desenvolve a fobia como sendo do nível de um chamado urgente de
socorro diante de uma escassez paterna.
Então,
junto com Lacan em sua releitura as obras freudianas quanta à fobia,
dizemos que ela é – em sua característica - uma evitação da
castração frente a insuficiência do pai real.
E
sobre o objeto substituto, o objeto fóbico – também podemos
pensá-lo como significante fóbico, como “elemento simbólico
singular” (Lacan, 1956-57, p.57) –, é aquele com o qual o
sujeito faz uso para se proteger da angústia, assegurando sua
estabilização e a transformando, através desse objeto, “em medo
localizado […] que, de outra maneira, se declararia numa angústia
impossível de suportar” (ibid, p. 412).
...Bem,
então, o intolerante pode pensar que com a aniquilação deste
outro, está protegido de sua angústia, de seu desejo inconsciente?
Afinal, ele – o outro - é o culpado por fazer suscitar tais
desejos impróprios. Será essa a equação que os racistas e
homofóbicos (sem citar os xenófobos e os machistas) operam para
responsabilizar o outro e não a si mesmo e assim dormirem em paz?
Percebam,
em todos eles, que a projeção invertida está presente em suas
dinâmicas, ou seja, “o que não se tolera é sempre e
necessariamente um fragmento de gozo inadmitido na própria fantasia
do desejo”, de acordo com Christian Dunker (2014, p.39).
E
Dunker apresenta uma lista que é bom citar aqui:
-
“O homofóbico é alguém em dificuldade com sua própria
virilidade ou feminilidade.
-
O racista é alguém que presume um a-mais-de-gozo que se lhe teria
sido furtado pelo elemento de outra raça.
-
O xenófobo é alguém que não consegue lidar com sua própria
irrelevância e impotência de origem.
-
O machista é aquele que teme a escalada do poder feminino, diante do
qual se sente desprotegido.” (ibid, p.39)
E
o autor prossegue dizendo que é por esta lógica, a lógica de
inversões projetivas, que passamos frequentemente da “gramática
da intolerância” (ibid) para o sexual, para a ordem do exercício
da sexualidade como forma de poder, apontando para o assédio sexual,
a pedofilia, o sadismo, o masoquismo, o fetichismo, como possíveis
aspectos principais nas quais se poderia encontrar a intolerância.
“Poder e dominação.” (ibid,).
Bom...
então, ódio intolerante ao
outro diferente - o ódio “como forma de intimidade” (Hook,
p.77), o ódio como força motriz da agressividade, da destruição e
aniquilação (também no sentido de reduzir/humilhar) – o ódio (e
a inveja também?), se mostrando como o ponto de amarração que une
esses exemplos trazidos (Est. Islâmico, racismo e homofobia).
E
sobre a agressividade, M.R. Kehl (2014) nos faz lembrar que a
agressividade não é “a expressão direta da pulsão de morte”
(ibid, p.110) e sim resultado da “fusão entre Eros e Tânatos”
(ibid, p.110), mesmo causando destruição e mortes.
Um
parênteses importante sobre o ódio...
O
ódio, entendido aqui, como uma paixão do Ser, de acordo com as três
paixões fundamentais. De acordo com Mauro Mendes Dias (2012), em Os
Ódios,
essa paixão do Ser em Lacan é caracterizada pela suspensão
provisória da barra que separa o “significante do significado,
porque, uma vez suspensa, o sujeito não tem mais referência
de impossibilidade; ao contrário, os significantes da paixão
determinam uma relação de superposição com o significado”
(p.26). E, ainda com o autor, é justamente essa “provisoriedade”
(p.26) na suspensão que diferencia a paixão – visto que é chama
- da psicose.
É
sempre bom não nos esquecermos, também, o ódio como fator na
constituição do sujeito, ou melhor, desde a constituição do
psiquismo, pois este, o ódio, se confunde com a “dimensão do
desprazer” (p.29). Ainda com Mauro Mendes, “o ódio está antes
do sujeito porque ele se inscreve nessa condição do Outro ser
castrado” (p.29). Portanto, o ódio antecede o amor, vem primeiro
em nós, só depois vem o amor.
E
isto - além de assustador - quer dizer que não somos tão
diferentes dos intolerantes mencionados aqui como gostaríamos.
Bom...
fechando parênteses e retornando...
Vejamos:
até aqui e nos casos citados de racismo e homofobia por mim, -
acrescentado da xenofobia e machismo por Dunker – percebemos
que há algo da ordem do desejo.
Um
desejo sexual impróprio, um desejo proibido, desprezível, enfim,
aquele que tem que ser mantido nas profundezas (como se houvesse) do
inconsciente.
E
quanto àquele que, com sua presença, ameaça trazer minha a verdade
escondida, escondida de mim mesmo, a minha verdade que eu suprimi, ou
seja, a verdade do meu desejo inconsciente - e assim (des)velá-la -
deverá ser destruído para minha preservação. Portanto, aquele que
se apresentar como meu espelho, via inversão projetiva, será
aniquilado.
Apesar
disso, nos dá a impressão que seu gozo está mais para o gozo
fálico, aquele - de alguma forma - mediatizado pela Lei e pelo
significante, delimitado pelo campo simbólico.
Por
outro lado, então - em relação ao Estado Islâmico e seus membros
- os intolerantes radicais (vou chamá-los assim para diferenciá-los
dos outros intolerantes) estariam sob o domínio do gozo e com placa
giratória na perversão.....
Sob
o domínio de um gozo mais além do princípio do prazer, um excesso
de gozo-Outro, um gozo embrutecido, devorador e mortífero, caótico,
absoluto, sem limites, cuja inscrição do Nome-do-pai e o acesso ao
falicismo estão ausentes por prazo indeterminado. Dá a impressão
que estão vivenciando o mesmo hiato, ante a vigência do tabu do
incesto, no qual os filhos do tirano pai - do mito científico
freudiano Totem e Tabu (1913) - viveram logo após ao parricídio,
como bem situa Maria Rita Kehl (2014) : “A sentença de
Dostoievski (1879), se
Deus está morto, então tudo é permitido”
(p.112).
Então,
podemos pensar que, se há intolerantes que se encontram na ordem do
desejo e intolerantes sob o domínio do gozo, podemos pensar em
in-tolerâncias? In-tolerâncias,
assim mesmo no plural, pois, no meu entender, há diferenças entre
elas. E ainda - e com bastante atrevimento - também podemos pensar
numa placa giratória versão intolerante, que hora aponta para o
desejo e hora para o gozo?
E
aí, outras questões suscitam na sequência...
O
que faz a pessoa se tornar um intolerante? Uma intolerância - mesmo
que temporária e pontual - em relação a qualquer objeto, incluindo
o outro?
Segundo
Dunker, “a intolerância se vê constituída como uma reação ao
gozo do outro, sentido e interpretado como excessivo, intrusivo e que
no fundo está afetando e limitando o gozo do intolerante”
(Id.ibid, p.39). E o autor coloca do lado dos intolerantes a “ideia
de limite” – “passar dos limites, extrapolar o tolerável” -
como defesa contra violações/invasões de seu território. E
questiona “qual é o território mínimo do indivíduo? “Seu
corpo? Seu quarto? Sua casa?...[...]...seus objetos preferenciais de
gozo?” (Ibid.).
Mas,
por outro lado, nós - supostos tolerantes – não nos sentimos
ameaçados e invadidos pelo gozo dos intolerantes?
Até
que ponto os tolerantes toleram os intolerantes?
Somos
mais tolerantes por sermos mais barrados pela castração, pela lei,
pela cultura civilizatória? E no caso brasileiro soma-se a
miscigenação?
Mas,
e o mal-estar (da civilização?) que isso causa?
Enfim,
você tolera a intolerância?
É
isto!
Melhor
dizendo: É
o Isso !!!
Observação:
O
que é tolerar?
Segundo
o Aurélio tolerar quer dizer aguentar, suportar, apontando para a
indulgência, resignação. Para o Michaelis, versão online, levar
co paciência, suportar com indulgência. Esse dois trazem no termo
tolerância a palavra sofrível. Já o Priberam, também online e que
tem por base o Dicionário Lello, de Portugal, diz que tolerar é
sofrer o que não deveríamos permitir ou o que não nos atrevemos a
impedir.
Referências
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CESAROTTO,
O.A. (2014) - Introdução:
Intolerância. In:
FANTINI, J.A. (org) - “Raízes da Intolerância”. São Carlos:
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C.I.L. (2014) - Intolerância
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FANTINI,
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Conselhos
ao médico para o tratamento psicanalítico.
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MANNONI,
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KATZ, C.S. (org) - “Psicose - uma leitura psicanalítica”. São
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OLIVEIRA,
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em: <http://cinefreudiano.blogspot.com.br/2012/06/homophobia.html>
Acesso em 27/01/2105.
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